Existe uma hipótese formulada por Seefeldt (1986) de que uma barreira de proficiência pode estar presente caso a criança não atinja níveis de habilidades motoras fundamentais que possam ser transferidas e utilizadas em modalidades esportivas de forma mais complexa.
Mas o que isso quer dizer?
Alguns autores propõem modelos para explicar o desenvolvimento de habilidades motoras em níveis, partindo do básico para o avançado. Gallahue, Ozmun e Goodway (2012) propõem 4 fases: movimentos reflexos (da concepção até 1 anos), movimentos rudimentares (do nascimento até 2 anos), movimentos fundamentais (dos 3 aos 7 anos) e movimentos especializados (dos 7 em diante). Na fase de movimentos fundamentais, a criança se torna capaz de aprender movimentos mais básicos, como chutar, arremessar, correr, saltar e rebater. Esses movimentos quando bem praticados e aprendidos serão utilizados na fase seguinte quando houver necessidade de combiná-los e torná-los mais complexos, como é o caso de habilidades esportivas. Assim, a criança precisa aprender a chutar de forma básica para que depois ela consiga combinar o chute com a corrida, o drible, o passe e etc. Como também, para que ela consiga realizar uma bandeja no basquete (movimento complexo), ela precisa primeiro saber correr, saltar, driblar a bola e arremessar.
A hipótese da barreira de proficiência é que ela existirá caso as habilidades motoras fundamentais não sejam aprendidas. Assim, quando a criança chegar à fase motora especializada, onde será necessário fazer combinações e aumentar o grau de complexidade, ela será barrada e terá dificuldade em aprender essas habilidades mais complexas.
O problema que isso pode acarretar é que a ausência de proficiência em habilidades motoras fundamentais pode estar negativamente relacionada à atividade física e níveis de aptidão física na adolescência e fase adulta e levar a resultados de saúde negativos ao longo do ciclo de vida.
Mas existe evidências científicas que essa barreira exista?
Um estudo realizado por Costa e colaboradores (2021) analisou a aprendizagem do saque do voleibol em crianças de 9 e 10 anos, que foram divididas em dois grupos: (1) alta competência motora e (2) baixa competência motora. A divisão entre os grupos ocorreu por meio da análise de movimento de habilidades motoras fundamentais, arremesso e toque, que são necessárias para realizar o saque, que é uma habilidade motora mais complexa.
Todas as crianças realizaram a mesma quantidade de prática e as crianças com baixa competência motora demonstraram um pior aprendizado do saque quando comparadas às crianças com alta competência motora. Assim, os autores concluem que a baixa competência motora pode sim ser uma barreira para a aquisição de habilidades esportivas adicionais. Além disso, os autores ressaltam que desenvolver as habilidades motora fundamentais em crianças é essencial para uma progressão sequencial e cumulativa de habilidades na infância.
Referências:
COSTA, C. L. A.; CATUZZO, M. T.; STODDEN, D. F.; UGRINOWITSCH, H. Motor competence in fundamental motor skills and sport learning: testing the proficiency barrier hypothesis. Human Movement Science, 2021. DOI: https://doi.org/10.1016/j.humov.2021.102877
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C.; GOODEWAY, J. D. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. Porto Alegre: AMGH editora Ltda, 2012.
SEEFELDT, V. Physical activity & well-being. America Association for Health, Physical Education, Recreation, and Dance, 1986.