Para aprender uma nova habilidade motora, é essencial planejar cuidadosamente as experiências de aprendizagem que o aluno receberá. Essas experiências incluem desde a instrução dada pelo professor até a estruturação da prática. As instruções podem ser fornecidas de várias formas: verbalmente, por demonstração, ou uma combinação de ambas.
Durante a execução da prática, correções e dicas são fornecidas, o que chamamos de feedback. Este feedback pode ser dado durante o movimento ou após a sua conclusão. Além disso, é fundamental definir como a prática da habilidade será mais eficiente. É sobre os tipos de práticas que abordaremos a seguir.
Tipos de Prática
O aprendizado de habilidades motoras requer prática repetitiva. A orientação dessa prática faz uma grande diferença no aprendizado. Para habilidades mais complexas, a prática física pode ser dividida em partes para facilitar o aprendizado:
- Fracionalização: Dividir a habilidade em partes e praticá-las separadamente. Exemplo: No nado crawl, praticar a batida de pernas com os braços apoiados em uma prancha e depois as braçadas com uma boia nas pernas, antes de juntar tudo.
- Segmentação: Praticar uma parte da habilidade, adicionar uma segunda parte, e assim por diante. Exemplo: Na bandeja de basquete, praticar a passada com drible, depois adicionar o salto, e finalmente o arremesso.
- Simplificação: Simplificar a habilidade. Exemplo: Praticar em câmera lenta ou usar uma bola mais leve no saque de tênis.
Como Escolher o Método de Prática
A escolha do método de prática depende da natureza da habilidade (complexidade) e da interação dos componentes.
A complexidade envolve o processamento de informações e o número de partes da habilidade, enquanto a interação se refere ao quanto os componentes se relacionam entre si. A figura abaixo ilustra como definir a prática de uma habilidade complexa:
Figura 1: Como definir a prática de uma habilidade complexa.
As setas amarelas representam o grau de complexidade e as azuis a interação entre os componentes. As setas voltadas para cima representam uma alta demanda e as seta para baixo, uma baixa demanda.
Dessa maneira, o método de fragmentação pode ser usado para tarefas complexas com baixa interação entre componentes. Já o método de segmentação: pode ser usado para tarefas complexas com alta interação entre componentes. E, o método de simplificação pode ser usado para habilidades menos complexas, independentemente da interação entre componentes.
Organização das Sessões de Prática
Podemos ensinar múltiplas habilidades ou variações de uma mesma habilidade em uma sessão. No vôlei, por exemplo, podemos ensinar o toque, a manchete e o saque (diferentes habilidades) ou ensinar variações do saque para diferentes posições na quadra (variação de uma habilidade). Assim, quando ensinamos várias habilidades em uma mesma sessão de prática, podemos classificar como:
- Prática Blocada: Ensinar uma habilidade e praticá-la por um tempo, depois ensinar e praticar outra habilidade por mais um tempo e assim por diante.
- Prática Randômica: Alternar entre diferentes habilidades em cada tentativa de prática, como em um rodízio de alunos praticando saque, manchete e levantamento.
Quando ocorre a prática de uma mesma habilidade em uma mesma sessão, podemos realizar das seguintes formas:
- Prática Constante: Praticar uma variação da habilidade por um tempo antes de mudar para outra variação.
- Prática Variada: Alternar entre variações da habilidade em cada tentativa.
A escolha da organização da prática depende do indivíduo (nível de dificuldade, experiências prévias e estágio de aprendizagem), da tarefa e do ambiente. A literatura ainda não é conclusiva sobre qual organização é a melhor (AMMAR et al., 2023).
Compreender esses métodos e aplicar a prática adequada pode otimizar o aprendizado de habilidades motoras, levando a uma melhoria significativa no desempenho dos alunos.
Referências
AMMAR, Achraf et al. The myth of contextual interference learning benefits in sports practice: a systematic review and meta-analysis. Educational research review. v. 39, 2023